Charges ironizando a repressão militar
ao tráfico de drogas, com frases como "Drogas: Reprimir mata mais que
usar", começam a circular hoje (22) nos ônibus da cidade do Rio de
Janeiro. Elaboradas por cinco cartunistas, como Laerte e Angeli, as peças são
parte da campanha Da Proibição Nasce o Tráfico, elaborada pelo Centro de Estudos
de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes e lançada nesta semana.
A campanha quer incentivar a discussão
sobre uma nova política de drogas, considerando que as regras atuais são
incapazes de reduzir o consumo e garantir a segurança da população. “A guerra
mata mais do que as drogas”, diz o desenho de Angeli e "A guerra às drogas
não funcionou", afirma o de André Dahmer. Laerte desenha um político
discursando de um púlpito (que também é uma caixa registradora) e pergunta:
"Quem ganha com tudo isso?”.
Responsável pela campanha, a socióloga
Julita Lemgruber, do centro de estudos, diz que a falta de informações trava o
debate sobre a produção, a venda e o consumo de drogas legais. Ela defende uma
mudança cultural que encare os dependentes químicos como pessoas doentes e
retire o mercado das drogas das mãos de criminosos. Para Julita, o primeiro
mito a ser enfrentado é o do que a maconha é a porta de entrada para outros
psicotrópicos.
Durante a apresentação das charges em
debate sobre a descriminalização das drogas e a regulação do mercado, o diretor
da organização não governamental (ONG) Open Society para América Latina e
Caribe, Pedro Abramovay, disse que o Brasil não precisa buscar referências
apenas na Europa. Ele cita a prefeitura de São Paulo como exemplo, por ter
substituído a abordagem policial na chamada Cracolândia, por atendimento médico
e social a dependentes químicos.“Não é maconha que leva a outras drogas, é o
álcool [droga lícita], mostram as pesquisas. A gente sabe que em Portugal, por
exemplo, que descriminalizou [em 2001] o uso de todas as drogas, não houve aumento
do consumo”, informou a socióloga. “Esses são mitos que queremos desafiar. A
falta de informação leva a crer que a guerra às drogas pode funcionar.”
“A gente sabe o que dá errado: proibir,
botar pessoas na cadeia ou matar. Há outras experiências que dão certo, de
controle da substância e de redução de danos. Precisamos investir nessas
experiências. É muito mais arriscado continuar na rota que estamos agora do que
mudar”, avaliou.
Em evento internacional da Open Society
hoje (22), no Rio, especialistas destacaram que a legislação punitiva, em
qualquer parte do mundo, beneficia os operadores de esquemas de lavagem de
dinheiro das drogas, em detrimento da violação de direitos de pequenos
produtores e da população negra.
Na avaliação da Polícia Militar (PM),
uma mudança na política é bem-vinda. “A descriminalização do usuário, para que
ele possa ser tratado pela saúde pública, e não pelo sistema de Justiça
criminal, é interessante na medida em que há uma perspectiva de diminuir o
custo da ação policial e desonerar a corporação dessa dinâmica de
enfrentamento”, concluiu o assessor de assuntos estratégicos da PM do Rio,
coronel Antonio Carlos Caballo Blanco, que esteve no debate.
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